Os 7 bilhões de habitantes do mundo geram, por ano, cerca de 1,4 bilhão de toneladas de resíduos urbanos, mas só metade da população é atendida pela coleta desse lixo, aponta levantamento da Iswa (International Solid Waste Association), representada no Brasil pela Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), com sede em São Paulo. O estudo mostra que metade da população do mundo, concentrada em países da África, do sudeste asiático e da América Latina, não tem nenhum tipo de coleta de resíduos.
A entidade calcula que seria necessário um investimento de US$ 40 bilhões somente para conseguir resolver essa etapa, sem contar reciclagem e compostagem, entre outras medidas. De acordo com o levantamento, se o mundo continuar adiando ações nesse sentido, a solução vai ficar mais complexa e mais cara. O trabalho calcula que em 2050, quando se estima que a população mundial chegará a 9 bilhões, o salto de produção de lixo será ainda maior, para 4 bilhões de toneladas de resíduos urbanos.
“A produção de lixo está crescendo muito rapidamente, não só porque a população está crescendo, mas também porque está se tornando mais rica. Estamos consumindo mais”, afirma David Newman, presidente da Iswa. “Fica claro que temos uma confusão e ela está nos países mais pobres. A confusão é que muito do lixo que não está sendo coletado está indo para os rios, se acumula nas cidades, causa doenças, acaba nos mares. Dez milhões de toneladas de plástico vão para os oceanos todos os anos”, complementa.
“A produção de lixo está crescendo muito rapidamente, não só porque a população está crescendo, mas porque está se tornando mais rica. Estamos consumindo mais.” – David Newman, presidente da Iswa.
Os US$ 40 bilhões conseguiram resolver a coleta de 1,4 bilhão de toneladas de resíduos, o que significa que o custo pode triplicar em 40 anos, se nada for feito agora. Para o Brasil, que tem uma meta, estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, de até julho do ano que vem acabar com lixões, a conta aponta que são necessários R$ 6,7 bilhões em um ano para resolver a coleta e destinação dos nossos resíduos.
“Na última década a população no Brasil cresceu 9,65% e a geração de resíduos, 21%. A projeção para 2042 é que teremos 230 milhões de habitantes, 15% a mais que hoje. Se o padrão de aumento da geração de resíduos se mantiver, ela vai crescer 30%. O dobro do crescimento da população”, comenta Carlos Silva, presidente da Abrelpe, parceira da Iswa no Brasil.
Gases estufas
O cálculo é importante nesse momento de discussão de um novo acordo em relação às emissões de gases estufas, que foi discutido ao longo das últimas duas semanas em Varsóvia, na Conferência do Clima da ONU. De 7% a 8% das emissões totais de gases no mundo são provenientes do setor de resíduos. Newman afirma que a boa notícia é que a indústria de resíduos vem crescendo nos últimos três anos, em todo mundo.
Em 2012, o valor de novos projetos iniciados em várias atividades com resíduos, não só a coleta, que é o mais urgente, foi de US$ 10 bilhões. Neste ano são US$ 21 bilhões e, no próximo ano, serão US$ 30 bilhões. “Está claro que vai continuar a crescer e essa é a boa notícia, porque siginifica que estamos construindo sistemas de coleta, de reciclagem, incineradores, plantas de tratamento de lixo. Um setor especificamente vem mostrando esse crescimento, que é o de incineração. Em 2008, o dinheiro gasto com incineração era de US$ 1,5 bilhão. Hoje são US$ 11,5 bilhões”, explica.
“A má notícia é que ainda não é investimento suficiente para evitar que dobremos a quantidade de resíduos que haverá em 2030. Os investimentos estão crescendo rápido, mas a produção de resíduos cresce ainda mais rápido.”
Em relação aos desafios brasileiros, Newman afirmou que o País iniciou sua jornada para a mudança, mas declarou que ela é demorada e continuada. “Na Europa levou 30 anos, mas vocês não podem se dar ao luxo de levar tanto tempo.” Segundo ele, há questões que tem que ser incorporadas, como a nada simpática taxa de lixo. “Não adianta fingir que é barato e que não é responsabilidade de todo mundo. Precisa de dinheiro. Não se protege o ambiente e a saúde de graça.”
São Paulo sediará, no próximo ano, o congresso mundial da Iswa para debater a destinação de resíduos sólidos.